O voo do neozelandês

 

Quantos pilotos de automóveis não tiveram uma chance maior, uma boa equipe ou se foram? Ninguém sabe falar, mas nomes não faltam e aqueles que conhecem bem as corridas de automóveis se lembram de um famosíssimo e que até hoje muitos falam e talvez não saibam a origem: Mclaren. Este é o sobrenome de Leslie Bruce, nascido na distante Nova Zelândia, do outro lado do mundo, na Oceania ao sul da Austrália.

Este intrépido piloto e engenheiro de grandes qualidades nasceu na cidade de Auckland em 30 de agosto de 1937 e desde a infância teve desafios pela frente. Nesta delicada fase da vida teve a Doença de Perthe que é uma necrose que atinge os ossos devido a um acidente doméstico que atingiu seu quadril.

Por consequência ficou muito tempo acamado, hospitalizado e sua perna esquerda era cinco centímetros mais curta que a da direita. Tinha onze anos de idade e não ficou afetado por esta pequena deficiência. Muito pelo contrário, pouco depois do tratamento, que tinha sessões de tração, algo muito doloroso, disputou provas de subida de montanha, muito comuns no país com um Austin 7 Ulster, um pequeno roadster inglês concorrente do MG Midget J. Eram suas primeiras incursões no mundo da velocidade sobre quatro rodas

Já na maioridade mostrava seu promissor talento com um Austin Healey 100. Todos estes carros ingleses não eram por acaso já que a Nova Zelândia como a Austrália e o Canadá fazem parte da Comunidade das Nações (Commonwealth of Nations) que é uma associação de territórios autônomos, mas de alguma forma ligado ao Reino Unido da Grã Bretanha.

Sua carreira automobilística no continente daria um salto quando ganhou o campeonato nacional correndo com um Cooper-Climax. Ao contrário de vários pilotos, Bruce estava começando a estudar engenharia. Gostava de máquinas, carros e mecânica. E queria saber muito. Seus pais tinham uma oficina e um posto de gasolina e ele havia crescido neste meio com muito interesse. Passava muito seu tempo livre entre carros, caminhões e motocicletas. O pai Leslie e os tios eram pilotos de motocicleta ocasionais. Todos na família gostavam de motores e andar muito rápido.

Devido a seus primeiros sucessos em Fórmulas locais ganhou um premio e foi disputar provas de Fórmula Dois na Inglaterra e lá conheceu uma pessoa muito importante para sua carreira. Era o piloto Jack Brabham nascido na Austrália vizinha que já corria na Fórmula Um desde 1955 quando estreou com um Maserati. Era a época de grandes nomes como Juan Manuel Fangio, Stirling Moss, Maurice Trintignant, Giuseppe Farina, Piero Taruffi e outros.

Em 1958 o regulamento da Fórmula Um permitia carros com motores atmosféricos com 2.500 cm³ ou 750 cm³ alimentado por um compressor. Na inglesa Cooper-Climax, que era pioneira na instalação do motor traseiro, estavam os pilotos Jack Brabham e o inglês Roy Francesco Salvadori. E no final deste ano Bruce Mclaren alugaria mais um exemplar da marca, só que era um Fórmula Dois e disputaria suas primeiras provas na Fórmula Um. O primeiro foi na Alemanha no famoso e temido Nürburgring.

A prova vencida por Tony Brooks com um Vanwall chegou em quinto lugar e na frente de famosos como o americano Phil Hill, Mike Hawthorn e Peter Collins. Todos eles pilotando para a italiana Ferrari.

O Cooper de Fórmula Um tinha motor com bloco de liga leve e duplo comando de válvulas. Este tinha 1.967 cm³ e 175 cavalos a 6.000 rpm. No caso do carro de F2 tinha menor potência. Eram 1485 cm³ e 155 cavalos. Uma diferença significativa que o piloto da Nova Zelândia soube administrar com raça e competência. Seu desempenho foi brilhante e chamou a atenção da imprensa e do mundo automobilístico.

Sua segunda prova na categoria seria no Grande Prêmio do Marrocos no interessante circuito de Aïn-Diab. A prova foi vencida por Moss e Bruce ficou em décimo terceiro a cinco voltas do final.

Em 1959 a equipe de John Cooper contrata oficialmente Bruce Mclaren que teria como companheiros de equipe Brabham e Moss bem mais veteranos e experientes que ele na categoria. O australiano se sagraria campeão na temporada, a equipe campeã e Bruce Mclaren teria sua primeira vitória em Sebring nos Estados Unidos. O mundo passava a conhecer o mais jovem campeão de uma prova de Fórmula Um. Um rapaz de um país distante, de apenas 22 anos de idade, formado em engenharia, muito educado, cortês e leal. Era o mais jovem campeão até então.

No ano seguinte, em 1960, o campeonato teria uma disputa interna. Jack Brabham voltaria a vencer e Bruce McLaren era vice-campeão confirmando sua competência na pilotagem de monopostos. Havia ganho a prova em terras argentinas, ficado em segundo em Mônaco, Bélgica e Portugal, terceiro na França e nos Estados Unidos e quarto na Inglaterra. Uma bela temporada de resultados significativos.

Em 1961, o regulamento permitia apenas carros com 1.500 cm³ e o compressor estava proibido. Bruce estava em condições de igualdade com Jack Brabham e também teria como colega John Surtees. Por coincidência este trio de grande talento teria no futuro seus sobrenomes escritos como marcas na categoria maior do automobilismo mundial. Neste ano a Cooper não conseguiria um bom resultado, apenas o quarto lugar geral. A concorrência crescia, a Porsche estreava com o americano Dan Gurney e o sueco Joakim Bonnier. Outro que se tornaria muito famoso era Jim Clark com sua Lotus-Climax. 

Em 1962 o campeonato seria muito disputado por pilotos de língua inglesa e de inigualável competência. O campeonato seria vencido por Graham Hill com uma BRM, o vice ficaria com o escocês Jim Clark em seu Lotus e o terceiro com Bruce McLaren, fiel a Cooper, que obteve uma bela vitória no principado de Mônaco. No final deste ano, na Alemanha, o amigo de Bruce, Jack Brabham junto com Ron Tauranac criava e estreava a equipe Brabham com o modelo BT (Brabham e Tauranac).

No ano seguinte o escocês voador, Jin Clark, surpreendia a todos com sete vitórias no campeonato em dez corridas. Em 1964 era a vez de John Surtees se sagrar campeão e em 1965 o escocês tornava a vencer o campeonato. 

O ano de 1966 marcava a estreia dos carros laranja na Fórmula Um. Assim como o verde era para a Inglaterra na época, o azul para a França e o vermelho para a Itália, a cor laranja representava o belo arquipélago da Nova Zelândia. Outra característica simpática do carro era a pintura de um Kiwi preto, um pequeno pássaro de bico longo e fino muito amado neste pequeno país montanhoso e que emprestou seu nome a fruta. 

A Bruce McLaren Motor Racing Ltd já havia sido fundada em 1963 só que disputavam a Fórmula Tasmânia na Oceania e venceram o campeonato neste ano. Bruce fazia sociedade com o amigo americano Teddy Mayer.

O modelo de Fórmula Um era denominado M2B era impulsionado por um motor Ford com oito cilindros em “V” e 4,2 litros usado na Fórmula Indy. Respeitando o regulamento de carros com 3.000 cm³ sem compressor e 1.500 cm³ com este motor foi adaptado. O carro ainda com a cor branca e detalhes pretos havia sido projetado por Robin Herd e seu ano foi muito difícil com várias quebras. Estreou no Grande Prêmio de Mônaco e sua maior glória foi ter participado do espetacular filme Grand-Prix dirigido pelo competente diretor John Frankenheimer. Era o Yamura pilotado pelo astro James Garner. O campeonato neste ano foi vencido por Jack Brabham com um Brabham-Repco. Nesta equipe coincidentemente estava um patrício ido projetado por  1.500 cm³ com este motor foi adaptado. de Bruce que também era competente. Era Denis Hulme então com 30 anos de idade. 

Em 1967 foi mais um ano sem sucesso na Fórmula Um com a Mclaren usando o potente, mas pouco acertado motor BRM. O carro em si não tinha um bom conjunto. Porém, no Campeonato CAN-AM, disputado em pistas americanas e canadenses, o protótipo amarelo tinha carroceria com ótima aerodinâmica e com enormes aerofólios foi bem mais veloz e robusto que os Lola e Chaparral.

Equipado com motor Chevrolet foi campeão da categoria. Era uma ótima estratégia da equipe disputar estas provas que premiavam muito bem e tinha ótimos patrocinadores. As provas eram disputadas em Riverside na Califórnia, Las Vegas no Nevada, Elkhart Lake no estado de Wisconsin e em Edmonton na província canadense de Alberta.

Um ano depois a equipe seria muito feliz na duas categorias. Na Fórmula Um, na quarta prova do campeonato, no belo circuito belga de Spa-Francorchamps, Bruce Mclaren ganhava sua primeira corrida pilotando um monoposto que levava seu nome. O M7A-D laranja usava o motor Ford Cosworth-DFV V8 que faria sucesso por anos. Era sua quarta vitória e talvez a mais saborosa de todas. Competiu nesta prova de igual para igual contra o mexicano Pedro Rodríguez em sua BRM, Jacky Ickx na Ferrari e Jackie Stewart Matra-Ford citando os primeiros na prova. O carro estava acertado, pois antes, na segunda prova, no Grande Prêmio espanhol, seu companheiro de equipe e patrício Denny Hulme tiraria o segundo lugar. Este mesmo piloto venceria ainda na Itália em Monza, no Canadá faria dobradinha com Bruce, e este fecharia o ano com outro segundo lugar no México. A Mclaren ficaria em segundo no campeonato, Hulme em terceiro na classificação de pilotos e Bruce em quinto.














Ainda ganhou a prova Corrida dos Campeões que reunia carros da Fórmula Um e da Fórmula Indy com um modelo M7A em Brands-Hatch.

Nas provas norte americanas o bruto M8B ganhava o campeonato CAN-AM. Este carro tinha motor V8 Chevrolet com bloco e cabeçote em alumínio, 8.111 cm³, virabrequim com cinco mancais e era alimentado por injeção mecânica. Sua potência era estimada em 800 cavalos a 7.000 rpm sendo que o torque máximo era de 100 mkg.f a 4.000 rpm. Tinha uma carroceria monocoque bonita que seria muito imitada. Sem ela, observando-se o chassi tubular, era notável o tamanho dos pneus. Na frente usava medidas 305 x 15 e atrás 430 x 15. Sua velocidade final era de 315 km/h. 

Em 1969 o Mclaren M8B da série CAN AM ganharia todas as 11 provas do campeonato revezando entre Bruce e Denis sem qualquer chance para os outros protótipos. Na Fórmula Um o ano tinha sido fraco apenas com um terceiro em Silverstone na Inglaterra e um segundo na Espanha ambos conseguidos por Bruce. Devido a sua regularidade chegaria em terceiro no campeonato.

A temporada de Fórmula Um de 1970 começava na África do Sul com Denny Hulme em segundo lugar. Na Espanha,segunda prova, seria a vez de Bruce também em segundo. A terceira prova, o Grande Prêmio de Mônaco ocorreu em 10 de maio e Denis Hulme chegou em quarto e Bruce abandonou por problemas na suspensão.

Na equipe CAN-AM entrava o americano Dan Gurney. E testando um carro deste, o M8D, no veloz, porém traiçoeiro circuito inglês de Goodwood, Bruce Mclaren sofreria um grave acidente e perderia a vida aos 33 anos de idade. O brilhante engenheiro e desenhista, o promissor piloto de duas belas categorias causaria comoção não só em sua pátria, mas também na Europa e nos Estados Unidos. Em sua curta carreira disputou 104 provas de Fórmula Um entre 1958 e 1970, freqüentou o podium 27 vezes, teve 4 vitórias, 3 melhores voltas, e ao todo 188,5 pontos. Na CAN-AM ganhou sete provas e seu carro laranja só teve como competidor a altura os poderosos Porsche 917/10.

Deixou seu legado e marca nos super esportivos

E também na Fórmula Um do das décadas de 70,80,90... Abaixo o modelo MP4/4 (1988)

Bruce Mclaren deixou sua marca e seu sobrenome figura entre os mais importantes de toda a história da Fórmula Um. A Mclaren é hoje uma equipe com números impressionantes. Desde sua estreia em Mônaco em 1966 obteve 162 vitórias na Fórmula Um só perdendo para a Ferrari bem mais antiga no campeonato. Conta também com oito títulos de construtores e oito de pilotos até o momento.

Bruce deve estar no céu assistindo tudo e muito satisfeito com sua obra magnífica.É um dos pilotos que até o momento figura entre os mais importantes de toda a historia

Texto e montagem Francis Castaings. Fotos de divulgação, Salão Rétromobile e organizações Peter Auto                                         

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