O Caçula dos Felinos

Após a Segunda Grande Guerra Mundial, a ordem na Europa era economizar. E na indústria automobilística não foi diferente. Usava-se muito a expressão, fazer o novo com o velho, ou seja, aproveitava-se muito do que ainda era bom fazendo uma renovação.

Todo o continente já era habituado e também apreciavam carros pequenos, fáceis de estacionar e econômicos. A maioria das capitais são seculares. Os primeiros registros de Paris tratam do ano 52 antes de Cristo e até hoje, em várias capitais européias existem ruas muito antigas e estreitas. Ideais para automóveis pequenos.

No final da década de 60 o menor carro da Peugeot Automobiles S.A. era o sedã 204. Figuravam ainda o valente 404 e 504 lançado no Salão de Paris em 1968. Faltava-lhe um produto para competir no prospero mercado de carros urbanos. A Inglaterra era representada pelo Mini e outros modelos Morris com menos de quatro metros de comprimento. Na Itália a Fiat tinha público cativo. Na Alemanha a Volkswagen e a Opel também tinham sua fatia do bolo. Na França o Citroën 2CV, apesar de antigo era sucesso, a Simca tinha o modelo 1000 e a Renault o 4L e o sedã 8. Faltava a fábrica de Sochaux, cidade sede da empresa, sul da França,entrar na disputa.

Em abril de 1966 as concorrentes Renault e Peugeot se associaram para desenvolver um novo projeto. Coube a empresa do leão desenvolver um motor de pequena cilindrada e a Renault um propulsor de 2 litros. Era o projeto M121 que daria origem ao Peugeot 104 e ao Renault 14.

A cada mês de outubro acontece o Salão de Paris e, em 1972, era lançado o menor carro de quatro portas do mercado europeu. O pequeno 104, desenhado por Paolo Martin, tinha dois volumes, estrutura monobloco, media 3,52 metros. Seu aspecto era moderno e muito simpático. Na frente tinha faróis ligeiramente trapezoidais e grade preta com frisos verticais. Visto de lado era muito simples com linhas harmoniosas e a visibilidade era ótima. Sua largura era de 1,52 metros, altura de 1,40 e entre-eixos de 2,42 metros. Pesava apenas 760 quilos.

O bloco do motor e o cabeçote eram em alumínio. Tinha quatro cilindros em linha, em posição transversal, inclinado a 72º em direção a parte traseira, refrigerado a água, 954 cm³ de cilindrada, comando de válvulas no cabeçote, virabrequim com 5 mancais e potência de 46 cavalos a 6.000 rpm. O torque tímido era de 6,88 m.kgf a 3.000 rpm. Era alimentado por um carburador de corpo simples e sua taxa de compressão era de 8,8:1. Sua velocidade máxima era de 135 km/h e vencia os primeiros 1.000 metros após 39 segundos. Estava de acordo com sua classe e tinha um motor moderno. A tração era dianteira e a caixa de marchas tinha quatro marchas com alavanca no assoalho. Muito econômico, seu consumo urbano era de 9,5 km/l.

Era muito estável como era tradição da marca e característica muito apreciada pelos franceses. Tinha suspensão independente nas quatro rodas, molas helicoidais e amortecedores telescópicos. Na frente contava com sistema McPherson e barra estabilizadora. Seus pneus eram na medida 135 x 13. Seus freios eram muito eficientes e contava com discos dianteiros. Por dentro era confortável para quatro adultos e seu painel tinha o estritamente necessário. Era muito simples e deixava a desejar.Em sua faixa de preço iria concorrer com o Fiat 127, com o Renault 5 TL, com o Autobianchi A112 e japonês Datsun Cherry 1000.

Em 1973 era lançada a versão cupê. Ainda menor tinha 3,36 metros de comprimento. Dois anos depois a versão GL e GR contavam com um motor com 1.124 cm³ e 50 cavalos a 4.800 rpm. Ambas tinham acabamento interno melhor assim como painel mais bem equipado.

Em 1976 o modelo de quatro portas recebia uma modificação bem vinda. Assim como o cupê, passava a dispor de porta traseira integrada ao vidro. O volume do porta-malas era muito bom principalmente pelo fato do pneu estepe estar alojado junto ao motor na frente, mas o acesso a este na versão antiga não era bom.

Em 1978 tanto a versão com quatro portas quanto a de duas portas ganhavam o motor do Renault 14. Denominado 104 S, tinha 1.361 cm³, taxa de compressão de 9,3:1, torque de 10,9 m.kgf a 3.000 rpm e potência de 72 cavalos a 6.000 rpm. Dotado de um carburador de corpo duplo e caixa de cinco marchas, chegava a bons 158 km/h. Por fora se distinguia por uma grade mais agressiva, faróis auxiliares, faixas esportivas laterais e rodas de liga leve.

A mais apimentada era a ZS. Com o mesmo deslocamento volumétrico da versão S, tinha 80 cavalos a 5.800 rpm e velocidade máxima de 164 km/h. Para se adequar mais ao novo temperamento era equipado com pneus 165/70 SR 13.

Seus concorrentes eram o Renault R5 TS, o Fiat 127 Sport e o Ford Fiesta SuperSport. Por dentro tinha painel bem equipado com conta-giros, velocímetro graduado até 200 km/h, voltímetro, temperatura de água e óleo. Ainda como parte do pacote esportivo vinha volante de três raios e bancos especiais com encosto de cabeça.

Uma versão denominada 104 ZS Rallye (acima) com 100 cavalos de potência foi lançada no Salão de Genebra na Suíça. Tinha carroceria em fibra de vidro, para-lamas alargados e defletores. Era destinada as pistas e fez muito sucesso colocando muito carro famoso para trás. Fez bela participação no Grupo 2 e 4 da FIA nos ralis de Monte-Carlo e Mil Lagos. 

Neste mesmo ano a Peugeot ressuscitava a marca Talbot e em 1981 lançava a linha Samba que tinha a carroceria e motorização similar a do 104 cupê. Uma versão interessante era a Cabriolet que tinha capota de lona, arco de proteção anti-capotagem e acabamento muito bom, Era equipada com motor ZS. Versões denominadas Bahia e Copacabana eram distintas e personalizadas. Também serviu de base para os primos Citroën LN e Visa. 

Em 1979 chegava a versão mais interessante para os amantes dos foguetes de bolso. Era a 104 ZS2 (acima). Limitada a 1.000 exemplares, pesava 770 quilos e seu “motorzinho” com 1.400 cm³ e 93 cavalos levava-o a 175 km/h e o 0 a 100 km/h em apenas 10, 5 segundos. Foi produzida até 1985.

A carreira foi longa. Infelizmente interessantes modelos estudados não foram lançados. Era uma picape proposta pelo encarroçador Chausson, um três volumes e uma perua (acima)

Outra, talvez a mais interessante, desenhada por Pininfarina, foi o Peugeot Peugette apresentado no Salão de Torino na Itália em 1976. O cupê esportivo era um modelo targa e tinha como particularidade ter capô e porta-malas intercambiáveis. As portas também. Media apenas 3,33 metros e seu interior era esportivo e futurista. Destinada ao mercado jovem, seu custo de produção seria reduzido e certamente seria um campeão de vendas pela genialidade.

Em dezesseis anos foram produzidos até 1988 cerca de 1.624.992 Peugeot 104. Um sucesso de Sochaux !

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Nas pistas

Obteve muito sucesso em ralis regionais na França e na Europa. Seja em asfalto, neve ou terra

Abaixo Jacques Dubert e Jacqueline Casamayou


Texto e montagem Francis Castaings. Fotos de divulgação, Salão Rértomobile  e Peugeot Automobiles                                 

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