Leão imitando águia
Copiar sempre foi um ato secular. Inspiração em ideias, pessoas e objetos também.
No pós-guerra todas as empresas automobilísticas tentavam fazer o novo com o que já existia. Aproveitar e economizar era palavra de ordem. Mas também se restabelecer, se reerguer.
Na França a Citroën estava bem no mercado com o modelo Traction (conheça) . E o modelo 2CV já estava quase pronto na prancheta. A Renault caminhava no projeto do também popular 4 CV. E a Peugeot queria fazer um carro médio popular para entrar numa fresta de mercado aberta. Os modelos existentes, o 402 e o 202 (abaixo) já estavam bem envelhecidos. Este projeto de um novo modelo havia começado a ser desenvolvido durante a guerra.
Em 1948, no Salão de Paris, era apresentado o modelo 203. Tratava-se de um modelo quatro portas, que levaria quatro passageiros com conforto. Suas linhas tinham clara inspiração americana.
Assim como o 402 (acima) se inspirou no Chrysler Airflow, este novo automóvel de Sochaux (sede da empresa no sul da França) se inspirava também nos Chrysler, Ford e Chevrolet da época. Mas o país da águia começava a abandonar este estilo.
Este novo francês era compacto e bem adequado ao estilo europeu. Media 4,35 metros de comprimento, 1,62 de largura, 1,50 de altura de tinha entre-eixos de 2,58 metros. Pesava 910 quilos. Suas linhas eram fluidas e curvas. A frente exibia uma generosa grade cromada com frisos horizontais e faróis circulares. Visto de perfil notava-se a boa largura da coluna B. E nesta se alojava, após o vidro traseiro, flechas “bananinhas” que indicavam a direção a ser tomada pelo condutor. Sua traseira fastback estava na moda, mas o vidro traseiro era pequeno dificultando a visibilidade. As portas dianteiras tinham abertura tipo “suicida” que era muito comum na época. Por isso o acesso a bordo era ótimo.
De série vinha com teto solar. Recebia cromados discretos em sua lateral e também no contorno dos vidros. As rodas com desenhos discretos recebiam calotas sem maiores ornamentos. Começou a fazer muito sucesso como um carro familiar sem maiores pretensões. Fácil de manter e robusto.
Seu motor era dianteiro, longitudinal, refrigerado a água, com quatro cilindros em linha e 1.290 cm³ de cilindrada. Tinha o bloco motor em ferro fundido e cabeçote em Alpax tinha câmaras hemisféricas e válvulas em V. O comando era lateral. Desenvolvia a potência de 42 cavalos a 4.500 rpm. Era alimentado por um carburador de corpo simples da marca Solex. Sua velocidade máxima era de 120 km/h. O cambio era de quatro marchas, sendo que a primeira não era sincronizada. Sua tração era traseira.
A suspensão dianteira era independente e tinha feixes de molas. Atrás recebia eixo rígido e molas helicoidais. Usava pneus 155 x 400 e sua estabilidade era adequada. Seus quatro freios eram a tambor e em velocidades mais altas o pé do motorista fazia um esforço extra
Por dentro não exibia luxo. Porém tinha aquecimento interno e o vidro traseiro era anti-embaçante. O painel era da cor da carroceria, em chapa e tinha um mostrador, bem no meio, que incluía velocímetro, nível do tanque e temperatura do motor. Nas laterais dois generosos porta-luvas. O volante de quatro raios era bonito, tinha tamanho adequado e a posição de dirigir era muito boa.
Os bancos eram confortáveis, em tecido e nos forros das portas dianteiras tinha bolsas para guardar objetos mais leves. Os dianteiros completamente rebatidos podiam servi de cama em viagens longas na velha Europa. Era comum dormir dentro do carro em acostamentos com estacionamento ou em postos de gasolina
Em outubro de 1949 chegava uma versão diferente. Conservava as quatro portas, mas tinha teto de lona. Agradou bastante. Era muito charmosa e original. Tinha boa rigidez e não comprometia o desempenho do automóvel.
Desde o início do projeto o objetivo da marca era fazer uma gama completa na linha 203. E assim se fez com o lançamento em 1950 da perua. A denominada Familiar tinha o mesmo acabamento do sedã. A outra era a Comercial que era muito rústica a ponto de nem a grade nem os para-choques eram cromados.
Estava longe de ser um primor em estilo, mas era extremamente prática. Sua capacidade de carga era de 450 quilos e a porta traseira era facilmente retirada para a entrada de maiores volumes. Para melhorar o comportamento recebia pneus na medida 185 x 400.
Junto com ela chegava a picape com capota de lona e também a furgão com traseira em chapa. Todos mediam 4,53 metros de comprimento e tinha entre-eixos de 2,78 metros. Mantinha a mesma mecânica, era mais pesada e por isso seu desempenho era ligeiramente inferior ao do sedã. Um concorrente de peso da perua era o Citroën Traction Comerciale.
Em 1951 era apresentada a versão conversível. Muito bonita e atraente vinha com capota de lona. Se esta fosse em cor clara e a carroceria em cor escura, o carro ficava ainda mais vistoso. Tinha o mesmo tamanho do sedã, mas o espaço para os passageiros de trás era menor devido à presença da capota.
Baseado neste chegava o cupê em 1952. Como o conversível era muito bonito também. Ambos recebiam um friso cromado que saía do para-lamas dianteiro e ia até parte do traseiro. Uma diferenciação esportiva diferente. Também neste ano todos da linha ganhavam novos para-choques cromados e o motor passava a ter 45 cavalos.
Um concorrente interno que ia incomodar um pouco era o Simca Aronde (conheça) que chegava neste ano.
Preparadores amantes da marca modificaram o cupê para as competições. O primeiro foi Alex Constantin que dotou o motor com um compressor e foi competir nas 24 Horas de Le Mans de 1952. Sem sucesso, pois o carro sofreu um acidente. Mas a empresa gostou da tentativa. O mesmo homem se juntou a Aunaud. Enhardi e, em 1953, ficaram a frente dos Renault 4CV na competição. Foi também para Mille Miglia e para os ralis Africanos onde fez muito sucesso.
Em 1953 o 203 chegava a 330.000 modelos vendidos. Um número que foi comemorado pela Peugeot. O sucesso da linha era grande e suas vendas para a Europa e para o continente africano eram ótimas. Também neste ano ganhavam novo volante e painel. Este, em formato de meia lua, estava à frente do volante e abrigava toda a instrumentação necessária à condução do carro.
Um ano depois o cupê e o conversível deixavam de ser produzidos após 953 exemplares. A concorrência, principalmente inglesa venceu com seus famoso roadsters.
Em 1955, no Salão de Paris, era apresentado o Peugeot 403 (acima - Saiba mais) bem mais moderno que seu irmão da década anterior. E a empresa dava prioridade a este e a suas versões mais atuais. E em 1957 a linha também já não contava mais com a picape nem com as peruas.
O Sedã continuava firme, um pouco mais modernos com novas rodas, pneus e sem as charmosas “bananinhas”. As lanternas indicadoras de direção tomavam seu lugar pouco abaixo dos faróis.
A bela carreira do Peugeot 203 terminou em fevereiro de 1960 depois de 658.000 modelos produzidos. Sem dúvida foi o modelo que reergueu a firma do Leão.
Texto e montagem Francis Castaings. Fotos de divulgação, Salão Rétromobile,Peugeot Automobiles e organizações Peter Auto
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