Para o campo e para as colônias
Jeep americano ficou muito conhecido dos europeus nos tempos difíceis da Segunda Grande Guerra Mundial. Fez sucesso por causa de sua polivalência. Ele era robusto e por este motivo passava em qualquer lugar. Não era um carro confortável e nos tempos de frio e chuva não protegia muito. Até então, era fabricado pela Willys e pela Ford americana. Porém foi um veículo que inspirou muitas indústrias automobilísticas do velho continente. Todos queriam fazer algo parecido.
No anos 50, após guerra a Renault francesa, contava com uma linha envelhecida e queria produtos diversificados. Em 1946 havia apresentado o 4 CV que fazia bonita carreira e tinha uma versão mais rústica denominada Comercial. O Juvaquatre continuava em produção e tinha uma versão furgão para pequenas cargas. A linha ainda contava com furgões maiores que tinham capacidade entre 1.000 e 1.400 quilos. Ambos muito antiquados e eram derivados do Vivaquatre, um modelo dos anos 30. Mas servia bem a agricultores e a pequenos comerciantes. O presidente da empresa, Pierre Lefaucheux, desejava fabricar um veículo que fosse um meio termo entre automóvel e furgão. E este se inspirou um pouco no Willys Station Wagon, nossa Rural, lançada em 1946 nos Estados Unidos. Neste mesmo ano começava um estudo de um veículo misto, que fosse robusto e simples.
Em outubro de 1950, a Régie Nationale des Usines Renault apresentava seu novo modelo Renault Colorale. Na época a França tinha ainda algumas colônias na África que eram o Marrocos, a Tunísia e a Guiné. Daí vinha à primeira parte do nome, Colo e, em francês, rural é rurale, que foi usada na segunda parte do nome dado ao simpático dois volumes, que serviria para a família metropolitana e também para as do interior. O carro media 4,38 metros de comprimento, 1,82 de largura e entre-eixos de 2,66 metros.
Três modelos estavam disponíveis: O Praire com três janelas laterais, quatro portas sendo que as traseiras tinham abertura suicida. Facilitava muito o acesso a bordo. Atrás, graças às duas portas basculantes, o embarque de bagagens também era facilitado. Era a proposta de versão urbana.
Derivada desta havia uma versão mais simples especial para táxi. Tinha um teto solar traseiro e um vidro que separava a cabine do chofer do espaço para os passageiros. Com este, a empresa visava o mercado africano principalmente.
Os terceiro modelo, chamado Savane, tinha duas portas e a parte traseira era fechada por chapas ou por lonas nos lugares dos vidros. E vinha na cor amarela para combinar com as paisagens tropicais. As linhas da carroceria em aço estampado eram curvas e de certa forma tentava imitar as Station Wagons americanas. Sua frente seguia a linha “Ponton”, tinha faróis circulares e grade com frisos cromados horizontais. Visto de lado tinha um aspecto meio gordinho e parrudo, porém simpático. Era muito simples e nem mesmo tinha frisos laterais. Algo que agradava era o pára-brisa que se abria para frente melhorando a refrigeração interna.
Por dentro o Praire era rústico, mas levava com conforto, em seus modestos bancos, cinco passageiros adultos. Opcionalmente era oferecido um terceiro banco menor que acomodava bem duas crianças. Sem esse, o espaço para bagagens já era bom. Rebatido o segundo banco a capacidade aumentava muito, para cerca de 2,75 metros cúbicos. Era um detalhe importante para atrair clientes do interior e das colônias. Um veículo multiuso. O painel era muito simples com dois mostradores. O velocímetro a direita do motorista e a esquerda havia outro que informava o nível de gasolina, a temperatura do motor e carga da bateria. O volante, de dois raios, tinha diâmetro avantajado como era costume da época.
Seu motor era de concepção bem antiquada, mas muito robusto e confiável. Mais de 300.000 unidades dele já tinham sido produzidas equipando o modelo Primaquatre. Tratava-se de um propulsor de quatro cilindros em linha, longitudinal, chamado de “85”. Era refrigerado a água e seu deslocamento volumétrico era de 2.383 cm³ e desenvolvia a potência de 48 cavalos. Com o peso elevado de 1.640 quilos o Colorale mal chegava a 100 km/h. Esta performance vinha estampada na publicidade da época do lançamento assim como seu consumo de 8,5 km/l considerado muito alto para os padrões franceses. Ainda anunciava uma carga útil de 800 quilos e capacidade de reboque de 1.000 quilos. Este dado já era um atrativo.
No ano seguinte era apresentada a versão picape. Tinha o aspecto simpático e sua capacidade de carga era muito boa. Sua caçamba era integrada a parte da frente da carroceria, mas também podia ser destacada, construída em chapa ou em madeira. Entre novembro de 1951 e junho de 1952, um modelo picape e outro Savane fizeram uma expedição da Terra do Fogo na Argentina até o Alaska na América do Norte. Rodaram mais de 45.000 quilômetros e se mostraram muito robustos e confiáveis. Eram carros da produção de série, normais, sem nenhuma preparação e enfrentaram condições muito severas ao longo da viagem.
Em 1952 a versão táxi deixava de ser fabricada. Nenhuma companhia havia se interessando muito e poucos taxistas independentes se interessaram por ela. Para piorar as vendas dos demais modelos da série também não iam muito bem.
No ano seguinte, numa tentativa de melhorar as vendas, uma novidade bem vinda era o novo propulsor derivado do sedã Frégate. Também com quatro cilindros em linha, válvulas no cabeçote e comando lateral. Sua cilindrada era de 1.997 cm³ e a potência de 58 cavalos a 4.000 rpm. Sua taxa de compressão era de 7,8:1 e era alimentado por um carburador de corpo simples. A caixa de marchas tinha quatro velocidades sendo que a primeira e a segunda não eram sincronizadas. Sua tração era traseira.
Também era lançada uma interessante versão 4 x 4 que estava disponível para todos os modelos da linha. Tinha engate manual da transmissão dianteira e uma caixa de transferência com duas velocidades.
Sua suspensão tinha eixo rígido na frente e atrás. Ainda contava com molas semi-elípticas e amortecedores telescópicos. Seus quatro freios eram a tambor e usava pneus na medida 7,50 x 16. Por conta da nova mecânica, transmissão e suspensão seu peso subia para quase 2.000 quilos. Nesta configuração mostrava galhardia em terrenos de difícil acesso, seja na terra, lama ou neve.
Foi uma tentativa da Renault no mercado de utilitários diferenciados. Após 43.000 unidades deixou de ser produzido em 1956. Junto com o Willys Station Wagon, foram os ancestrais dos esportivos utilitários de hoje, os famosos SUVES.
Texto e montagem Francis Castaings. Fotos e de divulgação e site Renault Classic
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