O Pirata do Bem
Ao consultar a palavra corsário num bom dicionário temos significado de que se trata de caçadores de navios mercantes inimigos, sendo que os Corsários tinham sua própria embarcação armada, era “patrocinado” por particular ou governo e, no caso deste, tinha a autorização beligerante. E roubavam tesouros e tudo que era de valor. Mas isso foi há muito tempo.
A linha de automóveis da Ford inglesa do começo dos anos 60 era composta pelo pequeno Anglia (acima), pelo Cortina, pelo Zephir e pelo Zodiac. Alguns já tinham o desenho bem envelhecido e outros eram muito clássicos. Era hora de renovar.
Foi assim que, em 1963, foi lançado o Ford Cônsul Corsair, sendo que pouco tempo depois era denominado apenas por Corsair. O sedã de três volumes tinha versão com duas ou quatro portas, linhas modernas, retas em quase toda a carroceria, mas com a frente inclinada para baixo, em cunha, dando um aspecto mais agressivo. A inspiração no Thunderbird de 1962 era evidente. E ficava mais ainda se visto de lado, principalmente pelo perfil dianteiro como uma seta. Nesta época, a Chevrolet inspirava os modelos da Opel, que era uma concorrente da Ford inglesa. E esta também recebia tendências da matriz americana.
Na frente os faróis circulares eram inseridos na grade e em parte do capo dianteiro. Ladeando estes estavam as luzes de sinalização na cor branca e âmbar. A grade, de frisos horizontais e verticais, tinha um desenho adequado. A visibilidade era ótima devido a boa área envidraçada. Tinha poucos frisos e na coluna C uma pequena entrada de ar horizontal. Tanto os para-choques dianteiros quanto traseiros eram envolventes. Atrás as lanternas tinham desenho vertical.
O modelo media 4,49 metros de comprimento, largura de 1, 61, altura de 1,45 e entre-eixos de 2,56 metros. O modelo cupê, derivado do sedã, pesava cerca de 905 quilos e o quatro portas 927. Tanto uma versão de carroceria quanto a outra tinham estrutura monobloco.
Debaixo do capô estava um motor de quatro cilindros em linha, em posição longitudinal, de 1.500 cm³, refrigerado a água, que desenvolvia a potência de 60 cavalos a 4.600 rpm. Sua velocidade máxima era modesta: - ficava em 128 km/h. Era o motor Kent originário do modelo Cortina. Sua caixa de marchas tinha quatro velocidades, todas sincronizadas e a alavanca era na coluna de direção. Sua tração era traseira.
Por dentro era simples, porém com acabamento correto. Comportava cinco adultos, pois era espaçoso e o banco dianteiro era inteiriço. O volante tinha dois raios e mais um aro oblongo cromado para acesso a buzina. O painel com desenho horizontal abrigava velocímetro, nível do tanque e temperatura da água. O destaque nas publicidades era para a segurança alertando que as portas de trás tinham travas para impedir que crianças abrissem e a falta de metal em forros de portas e contornos de bancos.
O carro agradou ao publico inglês, mas o desempenho do motor era fraco se comparado a concorrência. Devido a este fato um novo motor estrearia e faria sucesso por muitos anos na empresa, inclusive no modelo Capri que seria lançado em 1969.
Em 1965 o Corsair estava com um novo coração. Tratava-se do motor com quatro cilindros em V, também arrefecido a água, com deslocamento volumétrico de 1.663 cm³, taxa de compressão de 9,1:1 e potência de 77 cavalos a 4.750 rpm. O torque máximo era de 13 mkgf a 3.000 rpm. As válvulas eram no cabeçote e o comando lateral. Era alimentado por um carburador da marca Zenith em posição invertida. Podia vir equipado com cambio de quatro marchas no assoalho ou caixa automática Borg Warner que era também um atrativo muito interessante neste nicho de mercado. Fazia de 0 a 100 km/h em 16 segundos e sua velocidade final passava a ser de 145 km/h, mais adequada a classe do veículo. O tanque de combustível tinha capacidade para 45 litros e seu consumo era de 10,5 km/l.
A suspensão dianteira era independente com braços transversais, barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores telescópicos. Atrás tinha eixo rígido, barras semi-elípticas e também amortecedores telescópicos. Usava pneus 5,60 x 13. Seus freios dianteiros eram a disco, da marca Girling e os traseiros a tambor. Tinha boa estabilidade para um sedã familiar.
Seus concorrentes nesta época eram os alemães Ford Taunus 17M, o Opel Rekord SL e o VW 1600 TL. Também os franceses Peugeot 404 GT , o Renault 16 e o Simca 1500 GLS. Na Suécia o Saab Sedã e em casa o inglês Austin 1100. Na Itália o Lancia Fulvia 2C e o Fiat 1500.
Mais interessante era a versão 2000. Podia ser oferecida nas versões 2000 De Luxe, 2000 GT e 2000E (acima) . Sua cilindrada era de 1.996 cm³ e a potência era de 88 cavalos a 4.750 rpm. Era alimentado por um carburador de corpo duplo da marca Webber e seu torque máximo era de 17 mkgf. A velocidade final passava a ser de 160 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h em 14 segundos.
Por dentro os bancos eram mais anatômicos e os dianteiros individuais com regulagem de encosto. O painel recebia acabamento com imitação de madeira e o interior estava mais luxuoso.
A alavanca de marchas estava no assoalho tornando-o mais moderno. Por fora podia receber teto de vinil e calotas com desenho esportivo. Na versão GT rodas de liga leve e faróis auxiliares e poucos frisos.
Em março de 1966, no Salão de Londres, a antiga empresa de carrocerias Farnham apresentava uma versão perua, denominada Estate, derivada do Ford Corsair de quatro portas. Tinha clara inspiração nas americanas. Suas linhas eram bonitas e era feita sobre encomenda.
Outro modelo especial interessante, também apresentado neste salão, era o conversível da empresa Crayford. Tinha capota de lona e era feito sobre a base do cupê.
Por fora recebia rodas com aros mais largos, calotas especiais, dois retrovisores externos e opcionalmente o pneu sobressalente podia vir sobre a tampa do porta-malas. Por dentro podia ser equipado com volante de madeira e bancos em couro. Sem a capota tinha um estilo muito agradável e charmoso. Tanto a perua quanto o conversível são muito raros hoje.
Neste ano o modelo Cortina e o Zodiac, de classe superior, tinham suas carrocerias renovadas. E o Corsair começava a perder espaço na linha.
Em 1970 era encerrada sua produção. O Cortina da terceira série, quase idêntico ao novo Taunus alemão, assumia seu lugar. Foram produzidos cerca de 490.000 “corsários”. Foi um clássico Ford inglês diferente. Deixou sua marca.
Texto e montagem Francis Castaings - Fotos de divulgação
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