Um Peixe para substituir uma Pantera
A sociedade Matra, de origem francesa, que infelizmente fechou suas portas em 2004, teve grande importância na década de 60 na construção de pequenos esportivos interessantes como protótipos que brilharam nas pistas, principalmente no começo dos anos 70.
O industrial Jean- Luc Lagardère sempre foi um entusiasta de sua empresa. Em 1964 nascia o primeiro esportivo da Matra Sports.O modelo Jet era muito interessante. Logo depois veio o 530 lançado no Salão de Genebra, na Suíça em 1965. Rompia com vários conceitos e era um automóvel de linhas únicas que não passava despercebido.
Em 1973 chegava o inusitado Matra Bagheera na foto acima. Bagheera é uma pantera negra. Este esportivo tinha como excentricidade os três bancos dianteiros. Fez sucesso e vendeu quase 50.000 exemplares até 1978.
Os projetos na fabrica não paravam e em setembro de 1980 era lançado o Matra Murena já sobre a marca Talbot. O nome Murena vem de um peixe das águas do mediterrâneo que é muito forte, ágil e rápido.
Não tão ousado quanto o antecessor o Murena, porém tinha seus atrativos. Era seis centímetros maior que o Bagheera. Media 4,07 metros. Suas linhas em forma de cunha eram atraentes e por isso também tinha a aerodinâmica bem estudada. Seu coeficiente aerodinâmico, Cx, era de 0,328. Abaixo um modelo em testes no túnel de vento
Os faróis dianteiros eram escamoteáveis. Fazendo parte do spoiler dianteiro ficavam os faróis auxiliares e as luzes de seta. De perfil era agradável e era notável sua visibilidade. Muito boa para um esportivo. Atrás os faroletes, luzes de ré e sinalizadores formavam um único conjunto em forma trapezoidal. A preocupação com a segurança era notável, pois estes eram de bom tamanho. O desenho era obra do jovem designer francês Antonio Volanis.
A estrutura central da carroceria era em aço estampado com proteção de galvanizada de zinco. Porém o capô dianteiro, teto da cabine, tampa traseira de acesso ao motor, saias, pára-choques e spoiler eram feitos em resina e fibra de vidro visando um alivio de peso. Em ordem de marcha, o Murena pesava exatos 1.000 quilos.
Ele era produzido nas novas instalações de Romorantin. Esta cidade fica situada numa das mais belas regiões da França, no Loire, onde ficam os mais famosos castelos da França.
O motor ficava pouco a frente do eixo traseiro. Tratava-se de um quatro cilindros, refrigerado a água, longitudinal em posição transversal. Sua cilindrada era de 1.592 cm³, tinha comando de válvulas lateral e era alimentado por um carburador de corpo duplo da marca Weber. Longe de ser muito moderno, este motor de origem Simca, era robusto e muito confiável.
Sua potência era de 92 cavalos a 5.400 rpm e o torque máximo de 13,5 mkg a 3.400 rpm. Sua tração era traseira e o cambio de 5 marchas, o mesmo dos Citroën CX, era posicionado atrás do motor. Sua velocidade máxima era de 182 km/h e atingia os 100 km/h em 11, 2 segundos.
Mais interessante e um pouco mais cara era a versão 2.2. O motor de 2.155 cm³ tinha taxa de compressão de 9,45:1, comandos de válvula no cabeçote e potência de 118 cavalos a 5.800 rpm. O torque subia para 18,5 mkg a 3.000 rpm. Também era alimentado por um carburador de corpo duplo só que, em posição invertida e era da marca Solex. Este propulsor mais moderno era semelhante ao do irmão sedã Talbot Tagora. Também com cinco marchas, seu diferencial e o cárter faziam um só conjunto. Mais esperto era bem mais rápido. Fazia de 0 a 100 km/h em 9,6 segundos e atingia 195 km/h de velocidade final.
A suspensão dianteira tinha barras de torção longitudinais e amortecedores telescópicos. Atrás também amortecedores telescópicos e molas helicoidais. Ambas eram independentes e com barras estabilizadoras. Equilibrava conforto e estabilidade. A dirigibilidade era muito boa. Mostrava-se ágil e seguro.
As rodas padrão eram em aço estampado com calotas e como opção havia as em liga leve. Usava pneus Pirelli P6 185-60 na frente e 195-60 atrás de perfil baixo. Seus quatro freios eram a disco.
Por dentro mantinha o esquema com três bancos e estes tinham desenho esportivo, com encostos altos e eram aconchegantes e bonitos. Interessante detalhe era que o do meio podia ser rebatido e servia como um largo descansa braços. A forração dos destes e das portas eram em tecido xadrez preto e branco combinando com a cor preta do painel, volante e comandos.
O painel de bom gosto trazia conta-giros graduado até 7.000 rpm, velocímetro até 220 km/h. Este dois estavam fixados num grande retângulo. Abaixo havia o marcador de nível de combustível, marcador de temperatura, pressão de óleo e carga da bateria. E mais uma relógio de horas. Todo o conjunto era bonito e discreto.
Seus concorrentes eram o Renault Fuego francês, os alemães Opel Manta 2000 E, o VW Scirocco 1800 GTI, os italianos Alfetta GTV e Fiat Spider 2000 (antigo 124 Sport).
No final de 1983 chegava uma versão mais temperada. Tratava-se do Murena S. Mantinha a mesma cilindrada, mas sua potência subia para 142 cavalos a 6.000 rpm. A velocidade final passava a ser de 210 km/h e atingia os 100 km/h em apenas 8,4 segundos. Por fora se distinguia pelo aerofólio traseiro mais pronunciado e filetes vermelhos na carroceria.
Em competições se destacou mais nas provas de rallycross do que nas pistas de circuito. Um dos pilotos nas provas de terra era o famoso e fiel à marca Jean Pierre Beltoise.
A situação financeira da empresa não ia bem há muito tempo. E o Murena deixou de ser produzido em 1983 após 10.680 unidades vendidas.
Depois deste modelo a Matra nunca mais produziu um esportivo em série. Uma pena, pois, todos que a pequena empresa fabricou em quase três décadas foram muito interessantes. Triste fim para uma saga de modelos muito originais. Continuou a produzir para a Renault, o mono volume Espace e o futurista Avantime até 2003. Hoje a empresa se dedica à produção de pequenos veículos leves de propulsão elétrica.
Texto e montagem Francis Castaings. Fotos de divulgação
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