Extravagância no limite
As modificações em automóveis de série são tão antigas quanto sua história. As personalizações começaram no princípio do século passado. Endinheirados não queriam um modelo comum de grande produção mesmo se ele fosse muito luxuoso. Quem tinha muito dinheiro queria algo exclusivo. Prova disso foram vários Rolls Royce com carrocerias especiais na década de 20 e 30. E avançaram décadas e mais décadas aos dias de hoje. Vemos o “Tuning” ou “Tunados” em nossas ruas. Alguns de extremo mau gosto. Podem ser carros novos ou modelos das décadas de 70 com aerofólios cromados enormes e spoiler dianteiro destoando muito do resto da carroceria. Mas gosto é gosto.
No que se refere a extravagância em termos de designer os americanos quase sempre levam a taça de campeões. Já na década de 30 a história mostra desenhos de carroceria bem arrojados e de dimensões generosas. Os Auburn, modelo Speedster de 1935 eram pouco discretos. Os automóveis da Cord, da mesma década também seguiam a mesma linha.
Na década de 50 as fábricas disputavam qual modelo teria o rabo de peixe maior. Quase sempre a Cadillac deixava os concorrentes para trás. E havia ainda milionários do petróleo texano que gostavam de colocar um enorme chifre de boi sobre o capô. E as cores também eram “berrantes” como os chifres.
Para não sair do ritmo na década de 70 um modelo que brilhou em extravagância foi o Stutz Blackhawk. O nome Stutz vinha emprestado de uma empresa americana fabricante de carros esportes, muito famosa, fundada em 1912 por Harry Stutz. E Blackhawk de um modelo esportivo desta que brilhou nas décadas de 20 e 30.
Já a nova pertencia ao banqueiro James O'Donnell e o responsável pelo desenho das carrocerias era Virgil Exner. Elas eram montadas na Carrozzeria Ghia em Cavallermaggiore, perto de Torino na Itália e depois seguiam para os Estados Unidos. O nome da empresa era Stutz Motor Car of América.
O primeiro protótipo foi apresentado num dos mais luxuosos hotéis de Nova York, o Waldorf Astoria. A maioria dos afortunados que se hospedam lá, principalmente nos andares superiores, tinham caixa para comprar o automóvel nada ortodoxo.
Tratava-se de um cupê, com frente bem longa, habitáculo muito espaçoso para duas pessoas na frente, mas nem tanto atrás. Tinha uma enorme coluna B e traseira caída. Nesta o destaque era o local mais elevado para alojar o pneu sobressalente. A abertura do porta-malas também era outra atração, pois a parte que alojava o estepe ficava aparente e a tampa subia. Era em forma de U.De perfil não passava desapercebido. Exibia calotas ou rodas raiadas com pneus faixa branca, canos de descarga laterais cromados saindo do capô dianteiro e estribos nas portas de boas dimensões.
Visto de frente havia dois faróis circulares de bom tamanho embutidos em aros cromados. Na extremidade havia mais dois faróis circulares menores. No centro uma grade vertical ao estilo dos grandes Pontiac fabricados na época. E muitos cromados. A carroceria do cupê poderia vir em estilo saia e blusa o que o tornava menos discreto ainda ou em cores metálicas ou perolizadas. Media cerca de 5,70 metros de comprimento.
O motor dianteiro, em ferro fundido, montado atrás das rodas dianteiras, era um oito cilindros em “V” usado no Pontiac Grand Prix. Arrefecido a água sua modesta cilindrada era de 7.462 cm³ ou 455 polegadas cúbicas. O motor original tinha 253 cavalos, mas no Stutz a potência subia a estrondosos 425 cavalos. O torque máximo era de 58 mkgf e recebia um carburador de corpo quádruplo. Opcionalmente com um turbo-compressor.
Sua caixa automática era a GM TH400 Automatic de três velocidades. Sua tração era traseira. Apesar de seus quase 2.300 quilos ia de 0 a 100 km/h em 8,7 segundos e sua velocidade máxima era de quase 210 km/h. Como não era nenhum pouco aerodinâmico, atingindo tal velocidade, o condutor teria sérios problemas de dirigibilidade.
Já em 1972 podia também receber o motor 429 Cobra Jet da Ford que equipava vários carros musculosos . Este também esbanjava potência. Despejava 370 cavalos, sua taxa de compressão era de 11,3:1 e era equipado com o carburador da marcaRochester Quadrajet.
Por dentro impressionava pelo luxo. Feito conforme o gosto e o bolso do cliente, o volante de madeira, produzido pela Nardi italiana, tinha três raios metálicos que podia ser folheado a ouro de 24 quilates. Assim como botões de comando e moldura dos instrumentos. Eram conta-giros, velocímetro, termômetro de água, nível do tanque de gasolina, amperímetro e relógio de horas. Este era um Rolex genuinamente suíço com um diamante incrustado.
Tinha de série ar condicionado, vidros elétricos, controle de velocidade, radio toca-fitas e teto solar opcional. Todo revestido em madeira de alta qualidade, o painel era vistoso. Os bancos em couro completavam a sofisticação. Ainda havia compartimentos para guardar bebidas e charutos.
A suspensão dianteira tinha amortecedores telescópicos e molas helicoidais. Atrás recebia eixo rígido e mesmo conjunto de amortecimento. Os freios dianteiros eram a disco com diâmetro maior que o dos Pontiac e os traseiros a tambor.
O primeiro exemplar foi vendido para Elvis Presley. Está exposto até hoje em sua mansão em Graceland. Vários outros famosos também possuíram o modelo. A lista conta com atores como Sammy Davis Jr., Dean Martin (acima), Jerry Lewis, Lucille Ball, Al Pacino e Frank Sinatra que disputou o primeiro exemplar com Elvis. Também os músicos Elton John e Paul McCartney se encantaram com o modelo.
Era mais caro que uma Mercedes 600 (conheça) ou um Rolls-Royce Silver Shadow (saiba mais) .
Em 1977 a empresa apresentava um conversível baseado no cupê cujo nome era D'Italia. Dois anos depois nasceu o modelo Bearcat cuja meia capota tinha inspiração no Porsche Targa.
Em 1980 era montado sobre o chassi do Pontiac Bonneville. Ainda nesta década mais duas versões ganharam as ruas. A limusine Diplomatica com quatro portas e a longa, montada sobre o chassi do Cadillac DeVille denominada Royale. Esbanjavam elegância e imponência por onde passavam.
Foi um marco para os americanos que viram nele um retorno dos anos dourados em termos de designer. Era diferente, mas um belo carro em todas as versões fabricadas.
Sua produção foi encerrada em 1987. Como no lançamento, hoje valem muito no mercado de antigos. Não se compra um Stutz Blackhawk por menos de 40.000 dólares.
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Em Águas de Lindóia
Abaixo um exclusivo Stutz Blackhawk cupê. Foi premiado! Merecido! Um carro muito extravagante para pessoas como Elvis Presley, Frank Sinatra, Lucille Ball Sammy Davis Jr, Dean Martin, Evel Knievel, Johnny Cash, Curt Jürgens, Erik Estrada, Jerry Lewis, Willie Nelson, Isaac Hayes, Muhammad Ali, George Foreman, Tom Jones, Elton John, Paul McCartney, Al Pacino, Barry White... Que desenhou foram designers da Carrozzeria Padane em Modena na Itália e também a Carrozzeria Saturn em Cavallermaggior. Sua base era o Pontiac Grand-Prix.
Por dentro
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Muito interessante
Texto, fotos e montagem Francis Castaings. Demais fotos de divulgação
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