Água no Ar
A Volkswagen alemã ficou mundialmente conhecida por causa de seus modelos robustos, de preço acessível e por causa do econômico e durável motor de quatro cilindros opostos arrefecido a ar. Praticamente todos os continentes aceitaram muito bem a chegada do Volkswagen Sedã no final da década de 40 e começo dos anos 50. Baseado no sedã veio o Volkswagen Kombi que também ganhou a simpatia do mundo inteiro. E em 1955 era iniciada a produção do esportivo VW Karmann-Ghia, que foi desenhado por estilistas do Ghia, o famoso estúdio de design italiano.
No princípio da década de 60 faziam parte da linha o cupê fastback 1600 TL, outro cupê três volumes baseado neste e também a perua Variant. A empresa também já era a proprietária de marcas Audi, a Porsche e da NSU. Mas seus produtos começaram a ficar arcaicos e a concorrência reagia muito bem em quase todo o mundo. Estava perdendo clientes em toda Europa principalmente. Empresas como a Fiat, a Renault, a Peugeot e a Opel avançavam.
A NSU, de baseada em Neckarsulm produzia modelos interessantes e originais como o sedã Ro 80 (acima) que tinha motor dianteiro rotativo Wankel. E nesta empresa que começou um estudo para a produção de um motor arrefecido a água para equipar um novo modelo médio da empresa.
Em outubro de 1970, no Salão de Paris, era lançado um novo produto revolucionário, da unidade fabril de Salzgitter, que fica a cerca de 40 quilômetros ao sul de Wolfsburg, sede da empresa na Alemanha.
Era para ser um produto da NSU mais convencional que o Ro 80. Mas ele seria um rival de peso para o modelo 411 da Volkswagenwerk AG com o tradicional motor traseiro arrefecido a ar.
O novo automóvel da Volkswagen era o K70. Pronunciava-se “Ka Siebzig”. Este nome era devido a K de Kolben, que quer dizer pistão e o 70 por causa da potência.
Sua carroceria moderna tinha três volumes, linhas muito retas, quatro portas e ótima área envidraçada. Suas colunas eram muito finas. Um estilo completamente novo que, se não tivesse o escudo da empresa na frente, ninguém falaria que era um carro da marca.
Na dianteira tinha faróis retangulares e grade preta de plástico com frisos horizontais. Nesta estava um fino friso de metal cromado e o emblema VW ao centro. No projeto original, que também era obra do mesmo projetista do Ro 80, Claus Luthe, seriam quatro faróis circulares. De perfil era bonito e equilibrado. Levava com conforto cinco passageiros, pois o habitáculo era muito amplo. Ele media 4,42 metros de comprimento, 1,69 de largura e 1,45 de altura. Seu peso era de 1.050 quilos. Era uma revolução tecnológica que levaria a fábrica a modernidade, pois além do novo motor, o K70 tinha tração dianteira que já era sucesso e preferência na Europa.
Seu motor de quatro cilindros em linha, em posição longitudinal, tinha 1.605 cm³ de cilindrada. A potência era de 70 cavalos (52,5 kw) a 5.200 rpm. O torque era de 12.5 kgfm a 3.500 rpm e sua taxa de compressão era de 8:1. Era alimentado por um carburador de corpo duplo. As válvulas e o comando eram no cabeçote. A caixa de marchas mecânica com alavanca no assoalho tinha quatro velocidades. Ao contrário de outros VW, não tinha opção de caixa automática. E esta opção faria falta, pois visavam o mercado norte americano. Sua velocidade final era de 145 km/h e o consumo urbano era de 8,5 km/l. Para um motor moderno não entusiasmava.
Sua suspensão era independente nas quatro rodas. Tanto atrás quanto na frente recebia amortecedores hidráulicos e molas helicoidais. Era o Volkswagen de série mais estável já fabricado. Usava pneus 155 SR 14 e seus freios dianteiros eram a disco.
Por dentro também o painel acompanhava a modernidade. Na frente do volante de quatro e tamanho adequado, o painel abrigava conta-giros e velocímetro. Entre eles havia relógio de horas, marcador de temperatura de água e nível do tanque de gasolina. Havia ainda várias teclas no painel para diversas funções.
Em 1970, na eleição de carro de ano pelos jornalistas europeus ficou em segundo lugar atrás do Citroën GS que também era um de seus concorrentes. Pouco tempo depois vinha a versão K70 L. O motor desta versão com acabamento pouco mais refinado tinha 90 cavalos a 5.320 rpm. A velocidade final melhorava e era de 160 km/h.
Em 1973 era apresentada a versão K70 S. Se diferenciava por fora, pelas faixas pretas de gosto duvidoso, pois sua largura variava ao longo das laterais e na frente pelos quatro faróis circulares. Havia ainda, como opcional, dois faróis auxiliares abaixo dos para-choques. Esta mesma frente com para-choques maiores seria usada na versão exportada para os Estados Unidos. Ainda tinha belas rodas de liga e pneus na medida 165 SR 14. Com cores vivas, usadas muito na época, chamava atenção. Podia ser equipado com bancos esportivos tipo concha, volante com desenho esportivo e também com limpadores de faróis que tinham seu movimento sincronizado com o dos limpadores do para-brisa. O motor desta versão “esportiva” tinha 1.807 cm³ que proporcionava 100 cavalos a 5.300 rpm. A taxa de compressão era de 9,5:1 e o torque máximo de 13,7 kgfm. Sua velocidade final era de 165 km/h e fazia de 0 a 100 em 13,5 segundos. Já tinha emoção!
Em 1974 seus concorrentes eram o Audi 80, do mesmo grupo e os conterrâneos, Ford Taunus GXL 2000 e o Opel Rekord. Na França iria enfrentar o Citroën GS, o Peugeot 504, o Chrysler 180 e o Renault 16. Na Itália o novato Fiat 132 e o Lancia Fulvia Sedã. Na Inglaterra o Morris Marina e o Sumbeam Sceptre. Infelizmente suas vendas não decolaram como era esperado. E culparam o então presidente da empresa, Kurt Lotz, por outros fracassos de vendas como o VW Porsche 914 e a linha dos hatchs VW 411 e 412. E estes ainda eram mantidos em produção e de uma forma ou de outra atrapalhavam as vendas do K70.
Pouco depois Kurt Lotz foi substituído por Rudolf Leiding que havia dirigido a filial brasileira e foi o responsável pelos lançamentos do esportivo SP-2 e do VW Brasília. Este homem então encomendou um estudo à casa italiana Ital Design fundada pelo famoso designer Giorgetto Giugiaro para criar um novo carro num tempo recorde e a baixo custo. Tratava-se do Volkswagen Passat baseado no Audi 80. E o Passat em suas versões de três e cinco portas seria o principal produto da empresa.
Foram produzidos 210.082 exemplares do K70. O primeiro Volkswagen a água encerrou sua curta vida em 1975. Apesar da carreira pouco brilhante, foi o mesmo que proporcionou a volta do sucesso comercial da fábrica com a chegada do Passat em 1973, depois do mega sucesso Golf e do Polo.
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Texto e montagem: Francis Castaings - Fotos de divulgação
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